Como (não) escrever como Oscar Wilde (PDF – presentation)


Como (não) escrever como Oscar Wilde (PDF - presentation)

Os passos para criação de textos baseados no processo da escrita. Esta apresentação resume um artigo completo de mesmo título que pode ser lido no blog LINGUAGEM: http://www.jorgesette.wordpress.com

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O Morro dos Ventos Uivantes (Wuthering Heights): uma obsessão!


O primeiro contato

A primeira vez com que me defrontei com Catherine e Heathcliff, personagens principais de O MORRO DOS VENTOS UIVANTES (Wuthering Heights), eu tinha quinze anos, e eles falavam em português. A cópia que eu lia, uma bela edição traduzida, de capa dura  em vermelho da Editora Abril (veja foto abaixo), mencionava “charneca” (the moors)  e “urzes” (heather). Nunca ouvi essas palavras em português noutro contexto, e as acho impressionantes e memoráveis. Não posso dizer, portanto, que minha obsessão  pelo livro tenha sido causada pelo inglês apaixonado de Emile Brontë, a autora. Foi a história em si, o enredo, a estranheza dos personagens, com suas personalidades fortes e até mesmo violentas,  e especialmente o cenário desolado de Yorkshire, que me marcaram tão profundamente.

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O Morro dos Ventos Uivantes

Chegando ao original

Só muitos anos depois fui ler o original em inglês (confesso que até hoje tenho dificuldades com o dialeto local do personagem Joseph, o caseiro, fariseu fanático e mal humorado, sempre pontificando contra o pobre Heathcliff), e também, pude ouvir o texto em duas versões diferentes de audiobook (há várias, com diferentes narradores, disponíveis no site audible.com, que, acredito, pertence agora a Amazon). Cheguei a colecionar diferentes cópias impressas. E toda vez que vou à Livraria Cultura tenho que me controlar para não comprar uma nova, com capa e formato diferente. Tenho duas no Kindle.

Não sou a única vítima do fascínio  quase inexplicável que Wuthering Heights exerce sobre alguns leitores, conheço muitos deles. Numa editora em que trabalhei, tinha laços muito estreitos com uma colega que morava na Inglaterra. Comentando sobre nossa amizade, uma da minhas chefes me congratulou, dizendo que era muito importante manter um bom relacionamento com clientes internos. Respondi com bom humor que não se preocupasse, pois eu e a colega tínhamos um vínculo inquebrantável: nossa paixão por Wuthering Heights.

A história

Para os que não conhecem o enredo, a história,  que se passa na segunda metade do século XVIII, contada em flashbacks,  é muito simples: um orfão de Liverpool, Heathcliff, de origem possivelmente cigana, é adotado por uma viúvo, que o recolhe durante uma viagem de negócios, e o traz para morar no casarão da fazenda que dá nome ao livro,  situada num área desolada e inóspita do norte da Inglaterra, cercada pela charneca (saboreio essa palavra com prazer, como se fosse uma fatia de cheesecake). O viúvo tem um filho e uma filha, Catherine (Cathy), que, a princípio, desprezam e maltratam o recém-chegado.

Catherine e Heathcliff, no entanto, são espíritos livres e selvagens, e, é claro, não demoram a se encontrar um no noutro. Passam o dia brincando e correndo pela charneca (olha essa palavra aí de novo!), até que o inevitável acontece: se apaixonam. Surpreendentemente, Catherine decide se casar com um vizinho mais endinheirado, pois, para ela, a posição social é tão ou mais importante que o amor. Heathcliff a entreouve, sem que ela perceba, quando Cathy confessa à governanta (a narradora principal da  novela) que seria humilhante casar-se com ele, apesar de ser a sua alma gêmea. “I am Heahcliff”, ela diz em certo momento, numa frase icônica,  mostrando que o sentimento dos dois vai muito além de uma mera paixão física.  Mas Heathcliff não chega a ouvir esta parte, pois já decidiu que não pode viver mais ali  e se vai.

Anos depois ele retorna, rico e poderoso. O resto da história é uma intriga de amor, ódio, ciúmes e vingança – não, não é novela das oito da Globo, sei que há paralelos, mas não se enganem. Tudo isso envolto numa atmosfera gótica, com a violência da geografia e das condições climáticas (frio, chuva, neve e vento) não apenas servindo como pano de fundo, mas refletindo e reproduzindo, na natureza, as paixões dos personagens principais.

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Versão cinematográfica clássica, de 1939.

Os filmes

Vi duas versões cinematográficas do livro: a clássica,  de 1939, com Lawrence Olivier no papel de Heathcliff e Merle Oberon no papel de Catherine, e uma mais recente, dirigida por Andrea Arnold, de 2011. A que prefiro é esta última,  que ousa escalar um ator negro para o papel de Heathcliff. Esta versão para mim é a que reflete mais fielmente os personagens do livro. É uma versão mais sombria,  cheia de silêncios e imagens impactantes do desolamento da região. Com atores em ótimas interpretações. Veja clip abaixo.

Por fim

Como conclusão, ressaltaria que a literatura, além do prazer (e obsessões)  que proporciona e da capacidade que tem de aumentar nossa empatia, colocando o leitor numa posição privilegiada para apreciar  e entender o ponto de vista e a perspectiva de terceiros, é também uma forma eficaz de aprendermos ou aprimoramos  uma língua estrangeira.

Au revoir

Jorge Sette.

4 Livros Que Todo Professor de Inglês Deveria Ler.


Há livros, filmes, pinturas, esculturas e experiências sociais que têm  um impacto profundo nas nossas vidas e carreiras profissionais.  Neste post gostaria de compartilhar com vocês os quatro livros que mais inspiraram minha carreira de professor de inglês e “teacher trainer”. Li todos eles quando dei início a treinamento de professores como consultor numa editora nos anos 90, e durante meu mestrado em Linguística Aplicada na PUC em São Paulo por volta da mesma época.

Na realidade, eu recomendaria esses livros a qualquer professor de inglês iniciante ou experiente, ou mesmo a um professor que  ensine outras línguas. E ainda ao público leigo em geral, caso se interesse pelo fascinante tópico da linguagem e seu ensino e aprendizagem.

Volto a esses livros de vez em quando, e sempre encontro algo novo, um detalhe, ou alguma observação que depois de anos de prática fazem ainda mais sentido.  São imprescindíveis.

Vamos começar com o mais genérico de todos eles, um que considero a minha bíblia para o ensino de inglês, que cobre todos os aspectos do campo, passando pela análise  do processo de ensino, o conteúdo curricular, dando dicas sobre a escolha adequada de materiais didáticos, gerenciamento de classes, diferenças entre os tipos de alunos, etc, etc. Estou falando de A Course in Language Teaching, da Penny Ur, que frequentou inúmeros seminários em terras tupiniquins. Minha descoberta de Penny se deu através do famoso escritor de livros didáticos de inglês Robert O’Neil (um dos cérebros mais originais da área de ELT). Robert e eu estávamos sentados juntos na plenária da – para mim – ilustre desconhecida Penny Ur.  Começada a palestra, identifiquei que aquela pessoa que falava realmente tinha um conhecimento prático da realidade da sala de aula.  Era a “voz” de uma professora a que eu ouvia. Percebendo meu interesse, Robert comentou: “Não a conhece? Penny Ur. Se alguém algum dia quiser montar um treinamento completo para professores, tudo de que necessita é o livro dela!”  Reaaaaaally?  A lampadazinha das histórias em quadrinhos brilhou sobre a minha cabeça, e a partir dali comecei a montar toda a estrutura de um serviço de consultoria e treinamento que administrei por quatro anos, chamado Tutor. Alguns de vocês devem ter sido meus alunos…Infelizmente, meu livro, autografado pela autora, estava dentro de uma mala que me foi roubada numa viagem de volta da Jordânia. Foi o objeto cuja perda mais lamentei. Mas já comprei outro!

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A Course in Language Teaching (Penny Ur)

Outro livro que influenciou bastante a minha vida  profissional foi o Sound Foundations, do Adrian Underhill. O livro partia do princípio de que o aluno deve ter consciência do mecanismo de produção dos fonemas, entender o que está se passando com sua língua, com seu trato vocal, que partes estão sendo usadas na emissão dos sons. Não bastaria ao aluno uma exposição passiva ao insumo linguístico (input) para internalizar e reproduzir corretamente os sons, a inflexão e tonicidade de palavras e sentenças. Ele deveria ativamente  entender o processo para obter os resultados de inteligibilidade esperados de um falante de língua estrangeira. O livro se fazia acompanhar de um “chart”  fonético originalíssimo para a época, que hoje certamente está disponível online ou por outro tipo de mídia, como CD-ROMs. Este livro foi a base de uma programa que criei chamado Pronunciation for Brazilian Teachers, que foi bastante exitoso, repetido quase que semanalmente por quatro anos em várias cidades do Brasil.

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Sound Foundations (Adrian Underhill)

O terceiro livro que gostaria de sugerir se chama The English Verb, de Michael Lewis, um autor bastante controverso que tive a sorte de poder  conhecer e entrevistar para a revista trimestral do BRAZ-TESOL, que eu editava na época.  É um livro fantástico, mas não  recomendado para “os fracos de espírito”. Não pela sua complexidade, é muito bem escrito, e consequentemente, simples de entender. Mas exige que o professor tenha uma mente muito aberta a novidades, e esteja preparado para rever posições e fazer questionamentos muito profundos sobre o ensino de gramática, e, mais especificamente, sobre o significado dos tempos e formas verbais do inglês. Mudará sua cabeça para sempre, esteja avisada! Basicamente, o tema do livro é que há uma diferença enorme entre as regras gramaticais simplificadas que se usam em sala de aula, que muitas vezes só foram criadas para facilitar a vida do professor e do aluno, e a realidade do uso de determinadas formas verbais no inglês real, falado e escrito ordinariamente por nativos da língua. Preparada para cruzar esse abismo? Leia o livro.

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The English Verb (Michael Lewis)

Finalmente, deixem-me falar um pouco sobre Metaphors We Live By, de Lakoff e Jonhson. Neste livro revolucionário, aprendemos como a metáfora estrutura o pensamento e a linguagem do falante de inglês. Usamos a palavra “metáfora”  aqui não na sua acepção literária, mas como uma forma de expressar um pensamento com a ajuda de outro na linguagem do dia a dia,  por meio de analogias bem sistemáticas.  O livro nos leva a entender  como as experiências físicas e sociais nos ajudam a expressar comparativamente idéias mais abstratas e conceitos menos tangíveis. Partimos do concreto para chegar ao etéreo. Lendo o livro, você passará a entender associações que se fazem naturalmente em inglês sem nunca tê-las considerado mais profundamente.

Veja, por exemplo, como em inglês muitas vezes comparamos IDEIAS (abstrato) com COMIDA (concreto): “What he said left a bad taste in my mouth”, “All this paper has in it are raw facts, half-baked ideas and warmed-over theories”, ou  “There are too many facts here for me to digest them all”.

Também em inglês usamos sistematicamente a comparação de  TEORIAS (abstrato) com PRÉDIOS (concreto): “The argument is shaky”, “The theory needs more support”, ou ainda, ‘We need to construct a strong argument for that”. Percebeu? Todos os exemplos  anteriores são do livro.

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Metaphors We Live By (Lakoff and Johnson)

Esses livros certamente enriquecerão sua biblioteca e mudarão muito sua visão sobre a linguagem e seu ensino. Aqui está a lista:

1. A Course in Language Teaching (Ur, Penny. Cambridge University Press, 1996)

2. Sound Foundations (Underhill, Adrian. Macmillan, 1994)

3. The English Verb (Lewis, Michael. LTP, 1986)

4. Metaphors We Live (Lakoff, G. and Johnson, M. The University of Chicago Press, 1980)

Agora é sua vez. Que livros você me recomendaria?

Au revoir

Jorge Sette.

Sotaque tem importância?


Como todos aqueles que aprenderam uma segunda língua sabem muito bem, é praticamente impossível perder o sotaque característico da língua nativa (o português no nosso caso).

Estudei num escola de línguas na Inglaterra numa turma de nível de inglês avançado (estudávamos para o Cambridge Proficiency, um certificado internacional), e ao final de algumas semanas de curso,  já sabia identificar a nacionalidade de praticamente todos os alunos com quem falava  na escola, guiando-me apenas pelo sotaque.

Alguns sotaques eram mais carregados e fáceis de identificar, como os dos falantes de suiço-alemão, francês e espanhol. Outros, um pouco mais suaves (em geral, os dos alunos de países nórdicos). Mas o sotaque estava ali, sempre presente, em alunos de alto nível de inglês.

Digo tudo isso para explicar que sucesso na aprendizagem de uma segunda língua não requer que se fale a língua exatamente como um nativo  o faria. Claro que quanto mais nos aproximarmos de um modelo de falante nativo (no caso do inglês, de um norte-americano, ou um australiano ou alguém da Inglaterra)  mais chances  teremos de nos fazer entender internacionalmente.

Grande escritores não nativos que escreveram em inglês (Nabokov e Joseph Conrad, por exemplo), nunca perderam o sotaque estrangeiro na linguagem falada.

Alguns atores, como Meryl Streep e Tom Hanks, são supostamente excelentes quando imitam sotaques (regionais ou internacionais) em suas oscarizadas atuações. Mas quando perguntamos a alguém da região ou país cujo sotaque foi imitado, em geral ouvimos reclamações e piadas sobre a falta de autenticidade. Quem não se lembra do horrendo sotaque australiano de Meryl Streep no filme A Cry in the Dark: “The dingo ate my baby!”

Não meça seu sucesso numa segunda língua pela presença do sotaque. Alguns acham até charmoso manter um sotaque local (dizem que o nosso, o brasileiro,  é especialmente charmoso).

Au revoir.

Jorge Sette.

Quem se interessa pelo fascinante tópico da Linguagem?


Oi, por um tempo considerei que língua deveria usar no meu blog, uma vez que sou falante nativo do português, mas a maioria das minhas leituras técnicas e não técnicas é feita em inglês, minha língua preferida.

Como o objetivo desse blog é conversar com brasileiros  sobre a aprendizagem (ou aquisição) de uma segunda língua (L2), ou seja, uma outra língua além do português (L1),  que  você desenvolveu sem qualquer esforço na infância – se você não foi criado isolado  na selva como o personagem Mogli do conto O Livro da Selva de Rudyard Kipling, adaptado por Disney – achei que seria melhor usar nossa própria língua nativa.

A maioria dos meus amigos e conhecidos são pessoas envolvidas com o ensino de línguas: professores, editores,  autores, alunos, livreiros e distribuidores. Portanto, se apenas eles fossem meu público-alvo, poderia escrever em inglês, sem maiores problemas para ser entendido.  No entanto, gostaria de atingir leitores além desse grupo restrito: futuros aprendizes de línguas estrangeiras ou qualquer pessoa que se interesse pelo fascinante assunto da linguagem.

Tenho bastante experiência no tema de aprendizagem de línguas, uma vez que aprendi inglês e espanhol como segunda língua, e fiz cursos de francês por muitos meses (isso faz muito tempo, e não lembro muito mais que MERCI BEAUCOUP, mas planejo retomar logo logo a aprendizagem dessa bela língua). Também fui professor de inglês por muitos anos, e sempre trabalhei no meio editorial, nas áreas de consultoria e marketing de materiais produzidos para ensino de inglês como língua estrangeira. Além disso, sou Mestre em Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas, formado pela PUC – SP, o que me daria uma certa autoridade para falar do assunto.

Na verdade, porém, esse blog é simplesmente um veículo para que eu possa expressar o prazer que tenho em discutir tópicos relacionados ao ensino/aprendizagem/aquisição/desenvolvimento de línguas estrangeiras.  Esse blog tratará de técnicas de aprendizagem, estratégias de ensino, pesquisa na área de aquisição de uma segunda língua, uso de novas tecnologias no ensino de uma segunda língua, mas também discutiremos cultura, arte,  filmes, livros e programas de TV sempre ressaltando o aspecto linguístico na nossa análise. Pretendo evitar na medida do possível o uso de terminologia técnica ou jargão.

Sugestões de tópicos são muito bem-vindas

Acho que é só isso como primeiro capítulo.

Au revoir.

Jorge