Se “ELA” fosse uma professora…

A estreia do filme Ela (Her) se deu hoje em São Paulo.  Como havia lido os  comentários e ouvido sobre as premiações, minha expectativa era grande: era o primeiro da fila no cinema que escolhi. A história me interessava muitíssimo.

(Aviso: este artigo contém SPOILERS sobre o filme HER.)

Entrei no cinema 10 min antes do horário previsto para o começo do filme, e evidentemente, tive que checar meu iPad e iPhone umas duzentas vezes para preencher o vazio desse interminável intervalo. Ah, a ansiedade desses tempos modernos!  Fiz também a SIRI uma ou duas perguntas e ela pediu para acessar a minha conta do Twitter para a busca.  Me chama HORGUÊ  a gracinha. Gringa. Mas deu a resposta. Agora a situação piorara, o filme não começou ao final desse tempo. Quinze minutos depois da hora prevista, ainda não havia nem sinal de vida na cabine de projeção. Mais uns cinco minutos, e uma funcionária entrou espavorida e disse que houvera um imprevisto técnico.  O início do filme atrasaria mais um pouco. Ótimo prenúncio para um filme cujo história envolve um homem  que se apaixona por um sistema operacional: uma falha na tecnologia! Pressenti que o relacionamento retratado na tela tinha grande chance de ser um vôo turbulento!

O filme não decepciona, muito pelo contrário. Se não é exatamente revolucionário nas ideias, nos faz pensar muito sobre o que é a essência do ser humano e seus relacionamentos. Resumo da história:  Theodore (Joaquin Phoenix), separado da esposa, está prestes a assinar os papeis do divórcio, mas hesita, assim como ela, pois afinal de contas, trata-se de desfazer-se de toda uma vida construída juntos, desde jovens. Ele se sente solitário, e,  depois de experimentar algumas alternativas para conectar-se com outros seres humanos – incluindo linhas de sexo por telefone (numa cena hilariante, por sinal) – compra e se apaixona por um sistema operacional que se autodenomina Samantha (representado pela sensualíssima voz de Scarlett Johansson). O “OS” (operational system) tem um inteligência artificial  que se desenvolve e aprende, à medida que interage com humanos e outras máquinas.

Se o motivo do divórcio eram os problemas emocionais por que todos os casais passam, quando cada parte inevitavelmente muda e evolui, distanciando-se do parceiro, como seria lidar com isso numa relação com um computador que aprende constantemente e se torna cada vez mais autoconsciente? Não vou entrar em detalhes para não estragar o prazer de quem vai assisitir ao filme,  mas a reposta é: NÃO MUITO DIFERENTE!

her-movie

HER, the movie. Theodore and Samantha.

Imaginei como seria “HER” num contexto da Educação,  com programas e sistemas operacionais substituindo professores humanos. Afinal de contas, blended learning já é uma realidade sem volta. Obviamente, as grandes vantagens de interagir com uma máquina são a retroalimentação imediata, a personalização do ensino, a adaptabilidade da rota da aprendizagem ao progresso do aluno, e a flexibilidade do acesso online, permitindo que o aluno aprenda onde e quando queira. Essas atividades são indiscutivelmente executadas melhor por um computador.

Além disso, assim como no filme, o relacionamento  entre aluno e professor pode também facilmente prescindir da fisicalidade do contato.

Samantha,  o OS, no entanto, evolui a tal ponto ao longo da história que não lhe interessam mais os problemas humanos, está num nível muito superior de busca e preocupações existenciais, o que compromete seu relacionamento. Theodore busca então consolo numa amiga, real,  humana. Dessa forma, o filme parece concluir que seres humanos sempre necessitarão do contato com um semelhante,  alguém tão falho, inseguro, carente e, principalmente, dotado de um mesmo nível de complexidade emocional (nem superior,  nem inferior). Essa necessidade vale tanto para uma relação pessoal, como acadêmica, ou corporativa.

Claro que, dada a velocidade das mudanças tecnológicas por que passamos, não me aventuraria a prever exatamente o papel que o professor desempenhará amanhã.  Mas, se tomamos como exemplo a lógica do filme, a maior vantagem do ser humano está justamente na sua IMPERFEIÇÃO. A nossa própria fragilidade, se usada para potencializar e informar a empatia (a habilidade de sentir como o outro), será provavelmente a ferramenta que professores humanos disporão para se fazerem indispensáveis a seus alunos.

Au revoir

Jorge Sette.

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