Como todos aqueles que aprenderam uma segunda língua sabem muito bem, é praticamente impossível perder o sotaque característico da língua nativa (o português no nosso caso).
Estudei num escola de línguas na Inglaterra numa turma de nível de inglês avançado (estudávamos para o Cambridge Proficiency, um certificado internacional), e ao final de algumas semanas de curso, já sabia identificar a nacionalidade de praticamente todos os alunos com quem falava na escola, guiando-me apenas pelo sotaque.
Alguns sotaques eram mais carregados e fáceis de identificar, como os dos falantes de suiço-alemão, francês e espanhol. Outros, um pouco mais suaves (em geral, os dos alunos de países nórdicos). Mas o sotaque estava ali, sempre presente, em alunos de alto nível de inglês.
Digo tudo isso para explicar que sucesso na aprendizagem de uma segunda língua não requer que se fale a língua exatamente como um nativo o faria. Claro que quanto mais nos aproximarmos de um modelo de falante nativo (no caso do inglês, de um norte-americano, ou um australiano ou alguém da Inglaterra) mais chances teremos de nos fazer entender internacionalmente.
Grande escritores não nativos que escreveram em inglês (Nabokov e Joseph Conrad, por exemplo), nunca perderam o sotaque estrangeiro na linguagem falada.
Alguns atores, como Meryl Streep e Tom Hanks, são supostamente excelentes quando imitam sotaques (regionais ou internacionais) em suas oscarizadas atuações. Mas quando perguntamos a alguém da região ou país cujo sotaque foi imitado, em geral ouvimos reclamações e piadas sobre a falta de autenticidade. Quem não se lembra do horrendo sotaque australiano de Meryl Streep no filme A Cry in the Dark: “The dingo ate my baby!”
Não meça seu sucesso numa segunda língua pela presença do sotaque. Alguns acham até charmoso manter um sotaque local (dizem que o nosso, o brasileiro, é especialmente charmoso).
Au revoir.
Jorge Sette.